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Estudante de jornalismo, apaixonado por Chicklit, música, seriados e devaneios.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Tratado das criaturas da noite

As criaturas da noite caçam. É de sua natureza postarem-se do alto para melhor localizarem suas vítimas potenciais.
E então é o momento do grande felino de descer e caminhar, com passos silenciosos e leves, em direção ao coelhinho trêmulo e crédulo, ao pavão vaidoso e tolo, a corsa ligeira e fugitiva. Seus caninos brilham à menor menção de luminosidade, irridescentes. É isso que atrai suas presas, é isso que as fascina primeiramente: o sorriso avassalador e assassino do animal noturno.
Seus olhos agora mantêm a presa acuada, encantada sob seu estranho fascínio, olhos penetrantes e, apesar disso, inocentes e doces. Suas principais armas são a aparente fragilidade e a sensualidade almiscarada dos selvagens que ele exala ao seu redor, despertando em suas presas o desejo irrefreável de possuir para si o aparente calor de sua pele, ser a razão dos seus sorrisos, servi-lo mansamente; a presa volita, presa ao medo de perder o animal poderoso que se mostra disponível; ele lhe é troféu e, ao mesmo tempo, muralha protetora. E neste momento o caçador se deixa caçar, mostra-se dominado, exangue, cansado, frágil. Não quer mais caçar – argumenta – deseja apenas a pelagem macia do seu frágil captor.
O perigo passa e a presa dorme na certeza da posse de seu predador.
Mas, as criaturas noturnas não sabem o que quer dizer piedade, nem estão domadas, ainda que nos braços servis de suas vítimas. No momento certo cravarão suas presas, na jugular que está e sempre esteve tão a seu dispor.
A vítima inutilmente se debate, presa ao prazer da mordida e ao medo de perdê-lo para sempre. Subjuga-se à lambida, à carícia, como se subjugará ao dilaceramento. Está entregue, é de seu predador por inteiro e sabe, neste momento, que jamais conhecerá prazer tão intenso e que será abandonado na hora mesma em que se findar a tortura da dor e da subjugação.
A criatura noturna então voltará a seu alto posto de observação, escondido dos olhos diurnos, incapazes de compreender sua natureza soturna, e aguardará sua nova caçada.


♫ Queen of the Night Aria from Die Zauberflöte - Mozart

- 20:27h

Lohan;

Um comentário:

  1. Ainq delícia. Ser presa ou predador sempre é gostoso. E ser presa ou predador também pode ser uma tortura.
    É o jogo da sedução que rola na vida, né. Fazer o quê.

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